Castelos do Açu à Pedra do Sino na Travessia Petrô x Terê

20 de maio de 2017 – Segundo dia da Travessia Petrô x Terê

Saindo do Abrigo Açu

Acordamos cedinho no Abrigo Açu e tomamos o café da manhã que trouxemos (Achocolatado, aveia, Rap 10, Polenguinho e salame). A noite foi ótima dentro do abrigo, mas para as pessoas que acamparam foi um terror. Muita chuva, vento e frio. Estávamos com o guia Carlos da Mantiex e sua equipe.

O dia estava nublado e com cerração baixa. Mas a chuva tinha cessado, menos mal. Saímos em direção à Pedra do Sino, um dos trechos mais lindos de toda a travessia. Infelizmente não vimos nada, pois a neblina não deu trégua. Fiquei frustrada, pois não vi nenhuma paisagem igual das fotos que contemplava na internet, de amigos que já tinham realizado essa travessia. Na minha opinião, essa travessia é uma das mais lindas do Brasil e por isso preciso voltar em breve!

 

 

Travessia Petrô x Terê

Morro do Marco e Vale da Luva

Assim que saímos do abrigo, segui com o grupo da frente e me distanciei significativamente do Elio, que seguiu com o grupo de trás. Raramente fico com o grupo da frente, mas eu estava me sentindo bem e forte e consegui acompanhar o ritmo deles. Claro que eu era a última do pelotão, principalmente nas subidas, mas alcançava eles facilmente nas descidas, pois tenho facilidade em descer em um ritmo bom.

Passamos pelo Morro do Marco e pelo Vale da Luva sem poder apreciar nenhuma paisagem. Muita neblina. Em um rápido momento o céu se abriu e pudemos ver alguma coisa, mas foi muito rápido, nem deu tempo de ligar a câmera e registrar.

Agora, ao editar as fotos do Elio para colocar neste post, vi que o grupo dele teve mais sorte que o nosso. Tem algumas fotos desse trecho que são novidades para mim. Engraçado isso não é? 30 minutos fazem diferença na montanha!

 

 

Elevador da Travessia Petrô x Terê

Uma coisa que percebi, é que quando fico ‘longe’ do Elio, fico mais forte, faço menos manha para encarar uma subida e pareço andar mais rápido. Nunca tinha me tocado disso. Não pude compartilhar e nem reclamar dos trechos perigosos ou escorregadios, nem do tempo ou do chuvisco que caía sobre nós. Adorei minha experiência ‘solo’ nesse dia!


Risquei a palavra perigosos porque efetivamente não os achei perigosos, pois os encarei sozinha. Tenho certeza que se eu estivesse com o Elio, os acharia perigosos de verdade! Juro, nem Freud explica!


O Elevador é uma rampa de pedra bem inclinada que tem de apoio barras de ferro encrustadas na rocha, formando degraus para nos apoiar e subir. Infelizmente estão bem detonados. Puxa, a gente paga a entrada do parque e o mínimo que podiam fazer é conservar a trilha. As barras de ferro estão meio soltas e pensei que algumas iriam cair ao sentir meu peso. Fora que há umas 4 ou 5 que estão faltando, dificultando a subida. Inclusive eu tentava não ficar com meu peso em apenas um degrau, com medo que se soltassem.

Não achei o elevador difícil, apenas longo, cansativo e perigoso. Parei apenas uma vez, já lá em cima, para descansar. E ao me virar para admirar a vista, vi o grupo do Elio descendo para chegar na água antes do Elevador. O chamei gritando, ele ouviu e acenou para mim. Me deu saudadezinha e uma vontade de esperar ele por ali, mas dei ‘tchau’ e segui com meu grupo. Depois, a noite, ele confessou que naquela hora sentiu orgulho de mim, por estar acompanhando o grupo da frente. Que fofo!

Elevador da Travessia Petrô x Terê

Morro do Dinossauro, Vale das Antas e Pedra da Baleia

Mais 3 pequenos cumes pela frente, oscilando entre subidas e descidas, ora mais difíceis, ora mais fáceis. O ritmo estava bom mas a vista estava péssima. Esse trecho tem uma das vistas mais lindas da travessia e não pudemos ver NADA! O que mais me marcou nesse trecho foram as descidas nas pedras que estavam bem escorregadias devido a chuva do dia anterior. Vários momentos usei o bumbum como apoio, para evitar cair escorregando pedra abaixo. O grupo do Elio até utilizou cordas nesse trecho…

 

 

Mergulho

Chegamos no primeiro trecho que usaríamos corda e cadeirinha para descer. Não é obrigatório, dá para descer sem corda, mas nossa guia achou prudente. Como tínhamos que esperar o outro grupo se aproximar para usar a mesma amarração da corda ficamos ali por quase 45 minutos, até que o frio nos obrigou a esperar por eles na mata, após passar por essa fenda chamada ‘Mergulho’. Descemos tipo rapel e foi bem tranquilo. Já na mata esperamos mais 10 minutos e eles chegaram. Assim que eles chegaram a gente continuou a trilha.

Mergulho da Travessia Petrô x Terê

Cavalinho

Meu Deus! O temido cavalinho chegou. Ele vem logo após o Mergulho. A guia foi na frente, fez a amarração da corda e um dos meninos do meu grupo foi primeiro. Ele subiu numa tranquilidade que eu até pensei que era fácil. A esposa dele foi a segunda. Prestei bem atenção em como ela fez, onde pôs os pés. Ela sofreu um pouco, mas conseguiu. Chegou a minha vez. Confesso que queria que estivéssemos demorado mais para o grupo do Elio aparecer e ele me ajudar, como faz sempre. Mas o grupo dele era maior e até todos descerem o Mergulho demoraria um pouco. O jeito era encarar ‘sozinha’ mesmo.

Bom, antes de descrever minha subida no Cavalinho, gostaria de deixar claro que a pedra estava escorregadia, minha bota estava molhada por inteiro e eu estava com minha cargueira de 15 quilos nas costas. Tá, eu sei, isso não são motivos suficientes para eu passar vexame. Mas foi o que aconteceu!

Coloquei o mosquetão na minha cadeirinha, e comecei a subir na pedra. Atrás de mim estavam meus mais novos heróis amigos Micaela e Rodrigo e lá em cima estava meu outro mais novo herói amigo André e o anjo a guia Monique.

A guia disse: Um pé aqui, outro ali, tá vendo essa pedra aí? pega nela dá o impulso, segura aqui em cima, abraça a pedra, falta pouco, agora abre a perna e põe o pé aqui. Eu respondi: Como assim? Não tenho abertura suficiente para pôr o pé aí… Então pega mais altura na pedra onde estão seus pés! Não consigo, estou escorregando! Não consigo! Não consigo! Consegue sim. Você está segura, está na cadeirinha e eu estou segurando a corda!

Micaela, com suas mãos frágeis, faz um suporte na pedra para eu pisar nelas e dar impulso para subir. Não consigo! Vem o Rodrigo e faz o mesmo. Não consigo! O André, lá em cima, segura meu braço esquerdo com força e puxa. Não consigo! A guia segurando a corda e dando as instruções. Meu coração dispara e fico meio abobada! Não consigo! Só conseguia dizer isso. Eu não tinha onde segurar com a mão direita e por isso não tinha força para me erguer. Sério! Não consigo mesmo! O André pegou então meu braço direito também e me puxou! Ao mesmo tempo que o Rodrigo me empurrou por baixo. Senti minha barriga raspar na pedra. Eu estava subindo, mas não por minhas forças. O importante é que eu estava subindo…

Acordei da inércia em que meus pensamentos estavam e daí sim consegui colocar minha perna direita sobre a pedra. Ufa! Agora sim! Consegui!

Gente! Nunca sofri tanto na minha vida! Nunca tinha entrado em pânico assim. Que vexame! Fui içada no Cavalinho por meus mais novos heróis! E para me agradar a ainda guia me disse. Uhu! Parabéns! Você foi super bem! Sério? Tá de brincadeira! Parecia um saco de batata sendo erguido por um guincho!!!!!

Com o coração disparado, as mão tremendo, adrenalina a mil e morrendo de vergonha fui subir o ‘Coice do Cavalo’, outra pedra logo em seguida ao Cavalinho. Nessa, a guia pediu pra gente tirar as cargueiras e as subiu com a corda. Nem usamos a corda nesse local. Sem a cargueira foi bem mais fácil subir ali. Tem pessoas que dizem que o Coice é pior que o Cavalinho. Pra mim, com certeza não!

Cavalinho da Travessia Petrô x Terê

 

 

Cavalinho visto por baixo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cavalinho visto por cima

Pedra do Sino

Logo em seguida há uma escada de metal para subir e pronto! Estamos quase no Abrigo 4. Passamos direto na entrada que vai para o cume da Pedra do Sino e fomos nos registrar no abrigo. O Elio e seu grupo subiram na Pedra do Sino e aproveitaram um lindo pôr do sol.

 

Na hora do banho percebi um roxo enorme na minha perna esquerda, a mesma que ficou por mais de 1 minuto apoiada na base do Cavalinho. Foram os ferros da cadeirinha que a machucaram por pressão.

O Elio chegou quando já estava escuro e nosso reencontro foi emocionante. Eu queria contar tudo o que passei no dia pra ele e ele queria me mostrar tudo que registrou. Demoramos um pouco até a euforia passar e conseguirmos nos ouvir. Mais calmos, nos elogiamos e prometemos nunca mais fazer a trilha longe assim um do outro. Nesses 7 anos ‘andando por ai’ foi a primeira vez que andamos o dia inteiro longe dessa maneira. Mas confesso a vocês que eu gostei por 3 motivos:

Primeiro: ouvir a versão dele da mesma trilha que fizemos, no mesmo dia, mas em tempos diferentes, me deu a impressão que não era a mesma trilha. Que visão diferente das coisas cada um tem… Por isso sempre digo aqui que as impressões são muito pessoais e cada um vê o que quer! Use nossos relatos como base de informação, pois você jamais vai sentir o mesmo que sentimos!

Segundo: sempre achei que fazer trilhas com pessoas que tinha acabado de conhecer seria algo ruim, pois não teríamos como entrar em sintonia. Mas não. A energia da natureza é tão boa, que algumas horas andando juntos, vendo a dificuldade do outro e ajudando (com palavras ou fisicamente), a conexão é imediata e os laços se fortalecem em questão de minutos ou em questão de atitudes.

Terceiro: Não sei como explicar, mas andar ‘sem o Elio’ me fez sentir que sou mais forte, mais independente e que posso tudo, mesmo ‘sozinha’. Sempre que passo esses perrengues na montanha gosto de levar para minha vida pessoal. E enfrentar essa situação sem ele, me fez acreditar mais em mim. Essa sensação é muito boa, muito parecida com a sensação de superação. Amei viver e sentir isso!

À noite o guia Ivo da pousada de Teresópolis veio até o abrigo e fez a macarronada mais deliciosa do mundo. Aliás, toda refeição na montanha é a mais deliciosa do mundo. Hahahaha.

Fomos descansar!

Ah! Tem vlog desse dia da Travessia Petrô x Terê, confere ai:

 

2 comentários sobre “Castelos do Açu à Pedra do Sino na Travessia Petrô x Terê

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *