Pico Paraná

22 de abril de 2018

Saindo do acampamento do Itapiroca

Acordamos antes do sol nascer e conseguimos imagens belíssimas do amanhecer. Estava frio e ventando, mas nada que atrapalhasse o espetáculo da natureza. Logo cedinho as pessoas começaram a desarmar as barracas e a descerem para a Fazenda Pico Paraná. Nós éramos o único grupo que iria subir o Pico Paraná ainda hoje.

O café da manhã preparado pela equipe do Gente de Montanha estava delicioso, com bastante variedades e quentinho. Assim a gente fica mal acostumado na montanha!

Arrumamos nossas coisas e deixamos por ali mesmo, pois 2 guias ficariam vigiando nossos equipamentos. Na volta do Pico Paraná, passaríamos ali para pegar tudo e descer. Confesso que, assim que soube que teria que voltar ao acampamento do Itapiroca para pegar as coisas de acampamento, comecei a tentar a convencer o Elio para trazer a minha parte. Ele estava irredutível!

Bifurcação para o Pico Paraná

Descemos o Itapiroca e começamos a subir a trilha para o Pico Paraná. Muitas raízes expostas, em desnível e debaixo da floresta úmida. Uma mescla das trilhas do Pico Itaguaré e Marins na Serra da Mantiqueira, mas com a umidade, água e sombra presente. Uma vantagem na hora de se hidratar, mas uma desvantagem no que diz respeito a lama e lugares escorregadios.

Passamos pelo acampamento 1 (A1) e a trilha fica um pouco confusa ali. Há muitos caminhos e é fácil se perder, mas o Pedro Hauck nos guiou perfeitamente.

Grampos na rocha (via ferrata)

Um dos trechos que eu mais temia estava próximo: a ascensão dos grampos! Tenho certa experiência com grampos, mas sempre que tenho que transpô-los fico aflita, pois tenho medo da exposição. Subir, tudo bem. A gente olha para cima! Descer é minha sina. Minha angústia começa ao olhar para baixo para procurar o próximo grampo para pôr o pé e ver, lá ao fundo, o monstruoso precipício. Mas com calma e devagar sempre consigo e a sensação de superação é incrível.

Como era um final de semana com feriado no sábado, havia muitas pessoas por lá e todas decidiram descer do PP ao mesmo tempo. Formou-se uma fila gigantesca descendo e a gente querendo subir. Perdemos um tempo negociando com quem descia para deixarem uma brecha para a gente seguir. Conseguimos! Nem deu tempo de sentir medo, pois todos nos apressavam, parados encostados nas paredes de pedras, mal posicionados e com cara de poucos amigos.

Acampamento 2 (A2)

Uma das cenas mais tristes que já vi em montanhas foi aqui nesse acampamento. Quanto lixo! Que pessoas porcas. Era resto de comida, embalagens, lonas, sacos plásticos, papel higiênico, churrasqueira de metal, roupas… NUNCA TINHA PRESENCIADO ISSO EM NENHUMA MONTANHA QUE JÁ FUI! Não nesse nível! O lixo da Serra da Mantiqueira é fichinha perto do que ví aqui. VERGONHA!

Cume do Pico Paraná (1.877m)

Uma hora depois de sair do A2, chegamos ao cume do PP. Confesso que essa hora foi bem dura, muitas pedras, lance de cordas, escalaminhadas e um visual incrível. Chegamos no cume as 13:30 h e ficamos lá por 1 hora. Os guias prepararam um delicioso lanche de almoço. Nessa hora, o Pedro passou um rádio para os guias que tinham ficado no Itapiroca pedindo para eles descerem com os nossos equipamentos até a bifurcação da trilha do Paraná x Itapiroca, pois estávamos atrasados e isso aceleraria nosso retorno. Agradeci grandemente!

As nuvens chegaram conosco no cume e a vista não foi perfeita. Mas as vezes o céu se abria e podíamos ver o litoral inteiro e uma parte de Curitiba. Lindo demais.

Descendo  do Pico Paraná

Saímos do cume as 14:50h e chegamos na Fazenda Pico Paraná as 20:30h. No total, andamos cerca de 12 horas, no dia de hoje. A descida foi bem tranquila, não estava frio e viemos em um ritmo perfeito para mim. Na parte dos grampos e nas partes mais difíceis, um guia sempre ia me acompanhando e isso me dava uma segurança incrível. Obrigada Maria, Juliana e Pedro!

Chegando na Fazenda Pico Paraná pegamos nosso carro e voltamos para casa aqui em São Paulo.

Impressões dessa aventura

Sempre ouvia falar do Pico Paraná por amigos e conhecidos e nunca ninguém tinha feito alguma comparação para me dizer sua dificuldade. Por exemplo: “é mais fácil que os Marins, ou é mais difícil que o Capim Amarelo”. Então na minha cabeça sua ascensão era uma incógnita. Agora que já provei de seu fel poderia tentar classificá-lo na ‘minha escala de dificuldade’ e te ajudar a entender o que o PP significa no currículo de um montanhista. Pois bem, poderia, mas não consigo! Vou tentar te explicar o porquê!

O PP é diferente de tudo que já fiz. Não se parece com nenhuma montanha que já subi. Ele é uma mescla de trechos de trilhas por onde andei. Ora se parece com Pico do Papagaio na Ilha Grande, ora se parece com a travessia Marins x Itaguaré, ora se parece com Serra Fina. É uma montanha empinada no meio de uma floresta, o que dificulta bastante seu percurso, pois as raízes expostas são obstáculos constantes e demanda muita atenção e cuidado. Não é aquela trilha que você vai pensando em ‘como o dia está lindo’, ‘essa semana preciso ir ao dentista’ ou ‘que árvore frondosa’. É aquela trilha que, na maior parte do tempo, você pensa: ‘caraca, onde vou pôr meu pé?’, ‘qual é o melhor jeito de subir ali?’ ou ‘se eu cair daqui acho que não sobra nada!’.

Ei! Mas não pense que estou falando mal dessa trilha. Ao contrário! Uma trilha assim a gente se desgasta mais, mas a sensação de conquista é muito mais gratificante, faz correr sangue novo nas veias. Estou orgulhosa por tudo que vivi por esses dois dias e agora, que já se passaram 45 dias dessa experiência, confesso que viveria tudo de novo. Simplesmente apaixonada pelo PP.

Ah! Veja o vlog desse dia:

6 comentários sobre “Pico Paraná

  1. Jean Ricardo (Highlander)

    Ótimo relato, vivemos tudo isso quase juntos, eu também acampei no Itapiroca naquele sábado e encontramos vocês descendo o PP no A2. Foi minha primeira experiência por lá também. Acampamos no A2 e subimos o PP no dia seguinte. Também fiquei espantado com a quantidade de lixo no local.

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