Cume Vulcão San Pedro

08 de março de 2019

Saindo do acampamento

Nosso acampamento a 5.600 m de altitude foi perfeito. Não ventou muito a noite e apesar de ter feito frio estávamos bem quentinhos dentro da barraca. Levando os equipamentos certos a gente nunca passa perrengue…

Acordei com dor de cabeça e rosto bem inchado, sintomas normais para mim, quando durmo acima dos 4800m. Mas foi só sentar, respirar fundo por uns minutos que a dor passou. Se eu recorresse ao analgésico, com certeza significaria que não estava pronta para encarar a aventura de hoje.

Tomamos o café da manhã que os guias da Vulcano Expediciones trouxeram para gente dentro da barraca e confesso que comi forçada, pois estava sem fome nenhuma. As 6:15h começamos a caminhada, ainda escuro, com as lanternas de cabeça, capacetes e grampões na mochila.

Após 30 minutos de caminhada, o terreno nevado começou e paramos para colocar nossos grampões. Eu estava com uma bota comum de trekking e meus pés estavam congelando, um dos motivos que estavam me incomodando muito. Deveria ter alugado uma botas duplas.

Cume da Carla: 5910m de altitude

A cada 1 hora parávamos para descansar um pouco. O dia começou a amanhecer às 7h e os primeiros raios de sol surgiram atrás do San Pablo às 7:50h. O sol esquentou um pouco, mas meus pés continuavam bem frios, chegando a doer ao caminhar, pois em alguns trechos, a neve estava mais fofa e meus pés entravam nela, aumentando a sensação de frio…

Aos 5800 m, às 8h, cogitei a ideia de desistir! Os guias nos deram um tempo limite para chegar ao cume, que seria às 11h. Como eu estava levando cerca de 1 hora para subir 100m de desnível, pelos cálculos, eu chegaria ao cume, nesse ritmo, às 11h, horário limite, por isso resolvi continuar mais um pouco.

Aos 5.910m, 9:30h, atrasada em 30 minutos, decido parar e descer, para evitar atraso maior a quem continuasse (no caso o Elio). Meu cume do San Pedro seria ali mesmo, bem próximo à cratera ativa desse lindo vulcão. Aquela cratera, que ao passarmos na estrada que leva a Ollagüe, vemos fumegando como uma chaminé de trem a vapor.

O Elio, que estava bem mais forte e rápido decidiu seguir com um dos guias. O outro guia desceu comigo e com a Claudia, que também estava atrasada.

Cume do Vulcão San Pedro (Elio) 6.156m

Às 11h em ponto o Elio fez cume. Uhu! Ele relatou que o caminho é bem mais fácil que o Vulcão Águas Calientes e que a neve estava boa para caminhar. Disse que é bastante íngreme, mas que com calma dá para fazer e ainda me ‘frustrou’ ao me contar que com certeza eu conseguiria fazer cume, se tivessemos mais tempo disponível.

Parabéns Elio. O guia Juan que estava com ele, disse que a primeira vez que esteve ali, foi com um tio querido dele e que recentemente esse tio havia falecido. Ficou bastante emotivo, fez uma prece lá em cima e deixou um presente a Pachamama. O ritual emocionou o Elio, que ao final lhe deu um carinhoso abraço e juntos agradeceram o feito de terem alcançado o cume do vulcão San Pedro.

Veja no final desse post um vídeo sem edição que o Elio fez no cume, agradecendo seu feito.

Cume vulcão San Pedro

Descendo até o carro

O caminho de volta é sempre mais fácil e rápido. Até o acampamento fomos devagar, cortando o caminho que subimos em zigue-zague. Chegamos no acampamento às 11h (mesmo horário que o Elio fazia cume).

Arrumamos nossas coisas e começamos a descer o acarreo de pedras soltas. Adoro descer esse tipo de terreno. Consigo descer bem rápido. Apenas em uma parte achei mais perigoso, que foi aquele precipício que subimos no primeiro dia. Fora ele, foi tudo tranquilo. Chegamos no carro às 14:30h, junto com o Elio, que nos alcançou no final da trilha.

Voltamos a Calama onde ficamos em um hotel para o dia seguinte pegarmos um voo para casa.

Impressões desse destino

Sobre meu desempenho

Eu sei o que você está pensando depois de ler toda essa série: ‘a Carla é uma fraude, não é montanhista de jeito nenhum!’. Confesso que me senti assim mesmo quando deitei na cama após essa aventura. Poxa! O que sou eu? Sou uma ‘gorda’ que acha que pode fazer tudo e não consigo nada!

Verdade! Eu era uma pessoa que sonhava alto, sonhava grande e me frustrava muito ao não alcançar meus objetivos. Hoje penso diferente! Vejo que o mais importante não é o número de cumes que alcanço e sim o caminho e a experiência que carrego ao fazer cada expedição. E que quando eu começo a sofrer para tentar alcançar algum objetivo, a diversão se transforma em pressão e não é essa a finalidade desse tipo de lazer que pratico.

Sou uma entusiasta de montanha, uma praticante de aventuras ao ar livre! Não sou profissional e nem ganho minha vida com isso. Faço porque gosto e me sinto muito feliz nesse meio. Mas a partir do momento que começo a sofrer, eu paro!

Não me importo mais com que os outros possam dizer ou pensar. Eu sou mais eu e compartilho minhas experiências, minhas sensações, meus caminhos incompletos (que muitos chamam de derrotas!).

Sobre o destino

INCRÍVEL! Eita lugar bom de fazer alta montanha! Na região do Atacama há muitos vulcões, ativos e inativos, para se fazer montanhismo e até iniciação a alta montanha. Apresenta ascensões de todos os níveis (fácil a difícil) e a escolha da época do ano interfere muito no seu sucesso. Super recomendo!

De todas as montanhas dos Andes, as do Chile e Argentina são mais ‘fáceis’ quando comparadas com as do Peru e Bolívia (em termos de técnica de ascensão). Mesmo tendo chovido bastante nesse último verão e as montanhas estarem com bastante neve (mais que o normal), o Elio ainda conseguiu fazer 2 cumes dos 4 vulcões que tentamos. Em épocas normais, ele conseguiria fazer todos.

Um lugar gigantesco, com muitas opções e tão pertinho aqui do Brasil que não precisa gastar ‘rios’ de dinheiro indo ao Nepal, pois o nosso Himalaia está aqui.

Em agosto tem mais montanha! Uhu! Ischinca em Huaraz (Peru). E em dezembro/janeiro tem mais: Cerro Plata e Aconcágua (Argentina). O Elio vai tentar fazer cume do Aconcágua e eu vou até a Plaza de Mulas e tentar fazer o Cerro Bonete.

Nos acompanhem nas redes socias!

Veja o vlog desse dia

Olha que fofo esse vídeo sem edição que o Elio fez no cume:

2 comentários sobre “Cume Vulcão San Pedro

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